Por Daniel França
15/06/09
As mudanças nas relações de trabalho e suas conseqüências na sociedade contemporânea são alguns dos temas que serão discutidos durante o 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste, o Ciso 2009, que será realizado entre os dias 8 e 11 de setembro na Universidade Federal Rural de Pernambuco. O evento faz parte das comemorações dos 60 anos da Fundação Joaquim Nabuco.
Intitulado Classes sociais, desigualdade e subjetividade: precarização, invisibilidade e prevalência do trabalho atípico na contemporaneidade, o grupo de trabalho (GT2) reúne 15 trabalhos de pesquisadores de Alagoas, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco. A coordenação é dos professores Vera Lúcia Navarro, da Universidade de São Paulo (USP); Alice Anabuki Plancherel e Ricardo Mayer, ambos da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Para Alice, a classe trabalhadora se diversificou e se tornou mais complexa nas últimas décadas. Ela acredita que a crise do modelo fordista e taylorista realçou as diferenças nos conceitos de emprego e trabalho. “Os postos de trabalhos amparados pelas proteções sociais garantidas pelo Estado diminuíram muito com a flexibilização dos contratos”.
Segundo a professora, a globalização e o neoliberalismo são os principais fenômenos responsáveis por esse cenário, no qual também se observa o aumento da informalidade e o desenvolvimento de outras formas de relações de trabalho. Ela cita como exemplo as pessoas que prestam serviços temporários, as cooperativas e os trabalhadores autônomos, além de ex-empregados recontratados pelas empresas sob forma de “pessoa jurídica”.
O grupo analisa também os efeitos dessas mudanças na subjetividade de trabalhadores e trabalhadoras. De acordo com os pesquisadores, a falta de estabilidade gera insegurança, incerteza, ansiedade e angústia na vida pessoal e familiar. “Sem trabalho ou sem emprego, as pessoas parecem perder referências: sua percepção é a de se sentir desvalorizada, socialmente diminuída em sua condição de ser humano”, analisa Alice. No mercado, esse contexto estimula a competitividade que, em algumas situações, torna-se destrutiva. “A competição é corrosiva da ética e da solidariedade entre os membros da própria classe trabalhadora”, complementa. As pesquisas do grupo apontam que este tipo de “pressão” tende a fragmentar mais ainda a coesão social e política da classe assalariada.
E, nessa competição, muitos profissionais buscam na qualificação o diferencial para se sobressair na disputa por uma vaga. Por isso, o mercado de trabalho está mais seletivo e difícil em diversos campos de atuação. Como exemplo, Alice cita um concurso para professores realizado recentemente pela UFAL, no qual 110 candidatos disputaram seis vagas distribuídas nas áreas de antropologia, sociologia e ciência política.
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