sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fala, pesquisador 2 – as impressões do 14º Ciso no Recife

Por Tiago Cisneiros

Com o encerramento do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso), abrimos espaço para os comentários dos pesquisadores sobre o evento. Confira as avaliações de participantes e organizadores.

Joanildo Burity – Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) – coordenador Geral do Ciso.
“O saldo do evento é muito positivo. A organização prevista funcionou, o número de participantes – mais de mil pessoas – está dentro das nossas expectativas. A qualidade das apresentações foi muito bem avaliada, e eu acredito que nós conseguimos definir um certo padrão de organização e funcionamento, que vai ficar na história do Ciso. Aproveito para agradecer às pessoas que colaboraram, desde os professores e pesquisadores até os estudantes e as instituições e pessoal de apoio técnico e administrativo.”

Alexandre Zarias – Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) – organizador do Ciso e coordenador do GT “Sociedade, direito e justiça”
“O Ciso foi extremamente positivo, tivemos muita qualidade nos trabalhos e um alto grau de participação das pessoas. Conseguimos fazer com que o evento marcasse os 60 anos da Fundaj, com o apoio das instituições parceiras e dos patrocinadores. Neste ano, o Ciso teve um ganho muito grande, através da publicação dos trabalhos apresentados, do site e do blog, dos livros de resumos e do próprio esquema de divulgação. Extrapolamos os muros da academia, fazendo o diálogo com a sociedade, tornando claras as pesquisas da área de ciências sociais e humanas e articulando o conhecimento científico com o cotidiano da sociedade.”

Carla Cristina Costa de Menezes – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
“Esta é a primeira vez que participo do Ciso. Está tudo bem organizado e estruturado. O evento teve uma procura tão grande de pesquisadores interessados em apresentar seus estudos, que muitos não conseguiram um espaço para expor.”

Alexandre Veronese – Universidade Federal Fluminense (UFF)
“Participei de grupos de trabalho e fóruns na quarta-feira (9) e quinta-feira (10). As discussões foram muito proveitosas – entre elas, um fórum sobre os 20 anos da Constituição Federal, apresentado, hoje, pelo professor Ernani Carvalho. Espero que os alunos de graduação tenham mais interesse por este evento, porque é uma grande oportunidade para todos, já que transcende a barreira do Norte e Nordeste e se torna um congresso nacional.”

Orivaldo Lopes Junior – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e integrante da comissão científica do Ciso
“Participei de GT´s, fóruns e mesas, e me surpreendi com a amplidão dos temas e abordagens do evento. Confesso que, ao ver o tema geral – “Desigualdade e Justiça Social” -, imaginei uma coisa mais centralizada. Na verdade, foi um tema importante, porque é preciso chamar a atenção para um foco, mas é muito interessante que haja essa diversidade de assuntos e debates.”

14º Ciso aborda o funcionamento das instituições políticas brasileiras

Por Diego Ximenes

Como está funcionando o sistema partidário brasileiro, as eleições e o desempenho das gestões políticas nas principais cidades brasileiras? Essas indagações serviram de tema de debate do grupo de trabalho 28 que abordou As instituições políticas, na tarde desta sexta-feira (11), no 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso).

O coordenador de pesquisa do Instituto Mauricio de Nassau, Adriano Oliveira dos Santos, apresentou um trabalho voltado para os prefeitos que conseguiram realizar uma boa administração, e se a boa política pode eleger sucessores. O trabalho intitulado de “Boas Pesquisas Elegem Candidatos?” teve uma grande aprovação e foi um dos mais discutidos do encontro.

“Procurei abordar a situação de algumas cidades de Pernambuco. O porque em alguns lugares onde há uma boa administração o prefeito não consegue eleger o sucessor, enquanto em outros municípios são eleitos com folga nas pesquisas. Este assunto é de grande interesse dos alunos de Ciências Políticas”, afirmou Adriano.

Pesquisadores debatem comércio virtual no 14º Ciso

Por Tiago Cisneiros

O 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso), também, abordou a tecnologia dos novos tempos, com o painel “A sociedade brasileira resultante do e-commerce: novas interpretações do direito para garantir o acesso à justiça?”, apresentado pela professora Carla Cristina Costa de Menezes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A pesquisa integrou o GT “Sociedade, direito e justiça”, coordenado por Alexandre Zarias (Fundaj) e Marcelo Pereira de Mello (UFF).

O trabalho da professora Carla Costa refere-se ao fenômeno de comércio virtual, ampliado a partir das estratégias de inclusão digital do Governo Federal. Segundo ela, apesar do crescente espaço obtido pelo e-commerce, o Brasil, ainda, carece de uma legislação específica para o setor. “Existem modelos criados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial do Comércio (OMC), além da Diretiva 2000/31/CE, implantada pela União Europeia para unificar as leis de uso da internet em todo o continente. Aqui, as problemáticas geradas pelas relações do comércio são resolvidas com base no Código do Consumidor, que é muito protecionista para o próprio consumidor. Hoje, percebemos que ele começa a abusar desses direitos”, argumentou.

Essa postura estaria dificultando a importação de produtos, já que as empresas estrangeiras preferem evitar problemas jurídicos em âmbito internacional – principalmente em um país ‘contrário’ ao comerciante. Para a professora, a pergunta central do e-commerce no Brasil é: “Devemos reinterpretar as leis ou criar uma legislação adequada a esse novo tipo de relação?”. Essa dúvida está vinculada, também, à postura brasileira de não-aceitação das regulamentações internacionais e da lei aplicável (acordo das partes acerca das regras que determinam a troca). Carla Costa defende que o governo deveria centralizar princípios e condutas, criar formas mais seguras de contrato e exigir informações mais transparentes.

Embora reconheça uma postura protecionista no Código do Consumidor, a pesquisadora, também, considera as dificuldades dos compradores nas relações comerciais. “Quando são prejudicadas, as pessoas ficam desestimuladas a buscar a justiça, se prendem no dilema entre abrir mão do direito e enfrentar a demora e a dificuldade do Judiciário. Diante desse quadro, percebemos que o Código, apenas, coloca o consumidor no nível do comerciante, que tem o poder de barganha, mais conhecimentos técnicos e poder aquisitivo.”

Para evitar disputas com as empresas, Carla Costa aconselha que os consumidores, sempre, busquem sites confiáveis, solicitando recomendações a pessoas conhecidas sobre o serviço. “Assim, com o tempo, se adquire mais confiança nesta nova fase de tecnologia e de relações comerciais”, afirmou.

Grupo de trabalho do 14º Ciso discute arte e produções teatrais

Por Diego Ximenes

Antropologia e Imagem: teorias e práticas nas Ciências Sociais. Esse foi o tema que o grupo de trabalho 27 abordou no 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso), realizado no Centro de Graduação de Ensino da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) na tarde desta sexta-feira (11).

O professor de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Dádimo Souza Vieira, trouxe a temática “Cangaço e documentário: história, influências e vertentes”; Já a doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ana Amélia Medeiros, apresentou um trabalho sobre a peça “o Anti-classico”, que é um monólogo protagonizado por uma bailarina. O estudante do 8º período de Ciências Sociais da Universidade Federal Campina Grande (UFCG), Darllan Neves Rocha, apresentou o trabalho sobre o bairro do Alto do Moura, em Caruaru.

No último dia de encontro foram discutidas as relações entre as produções e interpretações de imagens e as ciências sociais, do ponto de vista histórico e cultural, como contos e imagens, de certa forma, tem sua repercussão na sociedade.

Segundo Darllan Neves, o repasse de informações da sua pesquisa serviu de capacitação para ele e significou uma ótima experiência a participação do seu primeiro Ciso. “Escolhi falar do bairro do Alto do Moura porque é um lugar que concentra o maior centro de artes figurativas da América Latina. Lá se encontra uma prdução bem diferenciada. Um bairro que cresceu graças ao barro.”

A luta por direitos sociais das pescadoras de Itapissuma vira tema de pesquisa

Por Tiago Cisneiros

A trajetória de busca por direitos sociais das pescadoras da colônia Z-10 de Itapissuma, no litoral Norte de Pernambuco, foi o destaque do GT “Desenvolvimento local: relações de gênero, comunidades tradicionais e meio ambiente no mundo globalizado”, do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste. A pesquisa analisou os movimentos por direitos civis organizados a partir de 1970.

O estudo intitulado “Pesca e gênero: 30 anos de carteira profissional de pescadoras”, desenvolvida pela professora Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão e pela estudante de licenciatura em Ciências Sociais, Claudia Maria de Lima - ambas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) -, destaca os anseios profissionais e pessoais das pescadoras da Colônia Z-10. De acordo com Maria do Rosário, as reivindicações tiveram início nos anos 1970, quando as mulheres envolvidas no mercado da pesca, ainda, não eram reconhecidas juridicamente como trabalhadoras. “Em 1979, a colônia se organizou e pressionou o Governo Federal, conquistando o direito ao registro profissional. Esta foi a primeira vitória das pescadoras de Itapissuma. Com o registro, passaram a ter direitos sociais, como INSS e licença-maternidade”, afirmou.

Hoje, 70% da população de Itapissuma sobrevivem da indústria da pesca, o que, segundo a pesquisadora, ainda não levou à ampliação e à reforma da infra-estrutura da Colônia Z-10, fundada em novembro de 1927, em frente ao canal de Santa Cruz. Desde a conquista do registro profissional, as pescadoras do município tiveram suas vidas bastante modificadas. Em 1985, a constituição ampliou o direito ao registro para as mulheres casadas, que, até então, eram consideradas seguras pelo emprego dos maridos. No mesmo ano, a Colônia Z-10 elegeu uma diretoria composta, exclusivamente, por mulheres, auxiliadas pelo Conselho Pastoral da Pesca - a primeira do Brasil.

A professora Maria do Rosário citou, ainda, as realizações sociais e ambientais da colônia. Uma delas foi a criação do grupo “promotoras legais populares”, composto por mulheres que recebiam formação para fornecer apoio e orientação às vítimas da violência; E um movimento de preservação dos recursos naturais de Itapissuma. Em janeiro de 1991, o Diario de Pernambuco noticiou as ameaças sofridas pela então presidente da colônia, Joana Mousinho, por parte de um pescador da comunidade, denunciado por utilizar bombas para exterminar os peixes.

A pesquisa “Pesca e gênero: 30 anos da carteira profissional de pescadoras” foi desenvolvida com base em visitas à colônia, entrevistas com integrantes e líderes do grupo e leituras de diários escritos pela Irmã Nilza, responsável pelo início da movimentação pela conquista do registro. Uma das anotações chama a atenção para o desamparo educacional da população: “Algumas mulheres diziam que o lápis era mais pesado do que o remo”.

Para Maria do Rosário, as ações da colônia Z-10 permitiram a criação de um novo significado à representação social das mulheres pescadoras, com reflexos importantes nas últimas três décadas. “Trata-se de um processo. Este ano, elas ganharam o direito de registro profissional para toda a cadeia produtiva da pesca, e não apenas para as pessoas que ‘vão ao mar’”, exemplificou. Entretanto, ainda há o que se modificar no reconhecimento às profissionais: “Elas reclamam que, se forem a uma agência do Ministério do Trabalho com as unhas feitas, os funcionários não aceitam a afirmação de que são pescadoras. Existe muito preconceito na relação delas com os órgãos públicos, responsáveis pela regulamentação do setor”.

Fala, pesquisador - as impressões do 14º Ciso no Recife

Alexandre de Freitas Barbosa, professor de História Econômica do Instituto Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) - “Eu estou encantado com o evento. Eu acho que está sendo muito bem organizado, com mesas que cobrem os mais diversos temas, pessoas de várias universidades, com uma grande presença, obviamente, de universidades aqui do Nordeste. As exposições muito qualificadas. infelizmente não pude participar de todas, mas o que é interessante é a ampla cobertura de tema e não só a preocupação com a região, mas com o Brasil também. E por isso eu estou muito satisfeito de ter participado”.

Amilton Moretto, pesquisador do Instituto de Economia e Centro de Estudos Sindicais e Economias do Trabalho - “O Ciso traz uma possibilidade de trocar ideias com pessoas que normalmente a gente não tem um contato muito constante, quer dizer, os pesquisadores e os alunos daqui não tem muita facilidade de ir para o Sudeste, e mesmo a gente não tem tempo de vir para cá se não for nesses encontros. O fato de você estar dentro de um conjunto de pessoas que são de uam área afim, porém diferente da economia, área de onde eu venho, você troca uma experiência de visões de mundo diferente. Isso acaba enriquecendo e fortalecendo nossa forma de trabalhar e pensar”.

Tatiana Burgos, aluna do curso de Ciências Sociais (4º período) - “Eu acho que o ciso é muito importante por integrar faculdades de todo o Nordeste e por poder juntar pessoas com linhas de pensamento diferentes. Isso, além de enriquecer as pessoas que participam como debatedoras, enriquece também os alunos que tem a possibilidade de ver um debate diversificado. É importante também por ser do Norte e Nordeste e discutir questões aqui das regiões, já que as ciências sociais de hoje discutem mais as questões do Sul e Sudeste, regiões que são polos de produção de conhecimento”.

Márcia Pereira da Silva Castro, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – “Eu acho o Ciso muito interessante e com uma diversidade de temáticas. Mesmo sendo um evento do Norte e Nordeste, o encontro tem conseguido se ampliar e trazer pessoas de várias regiões e de outros países. Mesmo com a dimensão que ele vem tendo nos últimos anos, o evento, no entanto, não tem absorvido um grande número de grupos de trabalhos”.

Cleumo de Oliveira, graduado em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e participante de grupo de trabalho – “O Ciso possibilita um intercâmbio de experiências profissionais e de estudos entre as diferentes ciências sociais. A gente está aqui para buscar essa maior comunicação das ciências sociais”.

Fórum sobre aquecimento global marca último dia do encontro

Por Victor Bastos

O tema “Aquecimento global e medidas de adaptação local” foi debatido na manhã desta sexta-feira, das 11h às 12h30, no Auditório do Centro de Ensino de Graduação (Cegoe). O fórum foi coordenado pelo representante da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Carlos Caldas, e contou com a colaboração de Adriano Dias (Fundaj), Almir Cirilo (secretário executivo de Recursos Hídricos do Governo de Pernambuco) e pelo professor Edgard Cavalcanti (UFPB).

Foram destacados os problemas atuais gerados pelo aquecimento global, as suas consequências biológicas e econômicas, as complicações e possíveis alternativas de adaptação para o momento que vive a sociedade moderna. As apresentações foram auxliadas por gráficos e slides.

O representante da Fundaj, Adriano Dias, enfatizou durante o debate que o aquecimento global já é um fenômeno reconhecido. “Estamos diante de um fenômeno mundial que é incontestável”, afirmou. Segundo Adriano, as previsões são alarmantes, sendo necessárias ações imediatas. A gravidade da situação dependerá da mitigação, ou seja, das formas gerais de controle. Segundo os dados divulgados, haverá uma mitigação perfeita se acontecer o aumento de 1 grau centígrado, uma mitigação razoável se ocorrer uma elevação de 2 graus centígrados e uma mitigação fracassada caso aconteça um aumento de 5 graus centígrados.

Perdas agrícolas, migrações e crise alimentar estão entre os principais efeitos econômicos do aquecimento. As complicações e consequências biológicas são precipitações concentradas, ventos mais fortes e estiagens prolongadas. “Para se ter uma ideia, o gelo ártico está derretendo 30 anos antes do previsto”, alertou Adriano Dias.

O controle e a redução na emissão de gás carbônico é a principal forma de mitigação. Segundo Adriano, a redução de CO2 é uma necessidade e uma obrigação do ser humano. Uma das formas é a utilização da vegetação para a redução das temperaturas. “Uma árvore é um ar-condicionado natural”, explicou. A adaptação também é uma forma de combater os efeitos do aquecimento global. Ênfase em medicina preventiva e aumento da capacidade na retenção hídrica estão entre as formas de adaptação.

Outro três fóruns completaram a manhã de atividades no último dia do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste. Os debates ocorreram paralelamente ao fórum “Aquecimento global e medidas de adaptação local”. Foram eles: "Populações tradicionais, lutas por reconhecimento e políticas públicas", no auditório do Cegoe, coordenado por Rosalira Santos (Fundaj), Alfredo Wagner Berno de Almeida (UFAM), Marco Aurélio Loureiro (MDS) e Mauro William Barbosa de Almeida (Unicamp); "Òmìnira Èsin – liberdade de culto: legislação que protege a manifestação religiosa de matriz africana", no auditório de Engenharia de Pesca, coordenador por Aurenice Maria do Nascimento Lina (Senac), Alexandre Alberto Santos de Oliveira (Organização Trajetória Mundial), João Monteiro (Unicap) e Márcio Carmelo Barbosa dos Santos (Unicap); e "Vinte anos da Constituição Federal: Judiciário e Cidadania", no auditório da Reitoria, sob a coordenação de Ernani Carvalho (UFPE), João Ricardo dos Santos Costa (AMB), Joaquim Falcão (FGV-RJ/CNJ) e Maria Teresa Sadek (USP).

Crise global e seus impactos foram discutidos no 14º Ciso

Por André Amorim

O último dia do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (14º Ciso) discutiu, num das mesas redondas, “O impacto da crise global nos países periféricos”. O encontro aconteceu das 9h às 10h30, no auditório do Centro de Ensino e Graduação (Cegoe) da UFRPE.

A coordenação da mesa ficou sob a responsabilidade do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também consultor econômico, Jorge Jatobá. A colaboração ficou a cargo do professor da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Barbosa, do professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Amilton Moretto, e do professor da Faculdade Boa Viagem (FBV), Olímpio Galvão.

Primeiro a expor suas ideias sobre o assunto, o professor Amilton falou sobre a origem da crise e os efeitos no mercado de trabalho do mundo e do Brasil. Segundo o professor, a crise financeira global teve início em meados de 2007 no mercado de hipotecas subprime (dividas assumidas na compra de um imóvel) nos Estados Unidos. No entanto, para o mundo, a crise ficou evidente com a quebra das instituições financeiras, em setembro de 2008, nos Estados Unidos e na Europa.

O impacto da crise nos países, segundo Amilton, está relacionado ao nível de abertura do fluxo de capital, ou seja, do controle de entrada e saída de capital estrangeiro dos países. Resultado imediato da crise, o enxugamento do crédito no Brasil atingiu diretamente o setor produtivo e, consequentemente, o Produto Interno Bruto (PIB).

Os níveis de desemprego também foram tratados pelo professor. Grande vilão na década de 1990, os níveis de desemprego estavam apresentando, desde o ano 2000, taxas cada vez menores nesse indicador. No entanto, com a queda na produção industrial, o desemprego voltou a apresentar taxas altas. Para esse ano, Amilton ainda acredita numa recuperação tanto no nível de desemprego como no da produção industrial.

O professor da USP, Alexandre Barbosa, explicou a situação do capitalismo global, (expressão que considera redundante pois o capitalismo por si já seria global), algumas características que aproximam e separam os países do BRICS (Brasil, Rússia, índia e China) e também sobre o caso da China, país que se destaca dentro do atual contexto econômico.

O professor da FBV, Olímpio Galvão, falou sobre a situação do pós-crise mundial. Além de refletir sobre o processo de recuperação do pós-crise, o professor falou sobre os impactos positivos e negativos da globalização e as implicações do que está acontecendo para as gerações futuras. Para o professor, a forma como a reestruturação vem sendo conduzida pode deixar marcas fortes nas sociedades futuras.

Ciência Política no Nordeste é debatido no Ciso

Foi realizado no auditório de Engenharia de Pesca da UFRPE, durante a última manhã do 14º Ciso, a mesa redonda “A Ciência Política no Nordeste: situação atual e perspectivas”. O evento foi coordenado pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Antônio Sérgio Araújo Fernandes e contou com a colaboração do também professor da UFRN, André Borges, do professor da UFPE, Ernani Carvalho, e da professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Gabriela da Silva Tarouco.

Informalidade e novas configurações do mercado de trabalho é tema de debate no 14º Ciso

Por Victor Bastos

A mesa redonda “Informalidade e novas configurações do mercado de trabalho” marcou o último dia do 14º Ciso. O debate ocorreu na manhã desta sexta-feira (11), das 9h às 10h30, no Auditório da reitoria da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Coordenou a mesa redonda a professora da Unicamp, Ângela Maria Carneiro Araújo, com a colaboração dos professores Ivan Targino Moreira (UFPB), Roberto Veras (UFCG) e da professora Magda de Almeida Neves (PUC-MG).

Ângela Araújo abriu a mesa redonda destacando o crescimento do trabalho informal nos últimos dois anos. Ela ressaltou a dificuldade de se distinguir o trabalho informal do formal. Os colaboradores desenvolveram o raciocínio em três pontos diferentes. O professor Ivan Targino enfatizou o lado econômico da informalidade e a professora Magda de Almeida trabalhou as questões empíricas do trabalho informal. Já o professor Roberto Veras fez uma reflexão teórica do conceito de informal, ou seja, o lado sociológico do tema.

Segundo os participantes da mesa redonda, é considerado trabalhador informal os empregados sem carteira de trabalho assinada, as trabalhadoras domésticas sem carteira de trabalho assinada, os trabalhadores autônomos e os que atuam em atividades de subsistência.

Professor da Universidade Federal da Paraíba, Ivan Moreira destacou as tendências do mercado de trabalho informal no Brasil, em especial a situação do Nordeste. Segundo ele, a desigualdade é preocupante. “Na região nordestina é maior a gravidade da informalidade. Para se ter uma ideia, o índice é 12% maior que o referente ao Brasil”, explicou o professor.

O tema “Para onde caminha a metodologia das ciências sociais?” foi debatido, paralelamente, na Sala de Seminários do Centro de Ensino de Graduação (Cegoe). A mesa redonda teve a coordenação do professor da Universidade Federal de Pernambuco, Remo Mutzenberg, com a colaboração do professor Adrian Scribano (UBA), da professora Maria da Conceição de Almeida (UFRN) e do representante da IUPERJ, Gláucio Ary Dillon Soares.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Grupo de trabalho discute as ações de políticas públicas

Por Diego Ximenes

Na tarde desta quinta-feira (10) foi realizado por um dos grupos de trabalho um debate sobre as políticas públicas e o Governo de diversas cidades do Nordeste, evento que faz parte do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso).

Participaram do evento a professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN),Márcia da Silva Pereira, que discutiu a Implementação da Política Nacional de Assistência Social no Município de Mossoró, e o estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Demetrius Ferreira, que abordou as Políticas Publicas de Esgotamento Sanitário no Nordeste Brasileiro. A mestranda em Gestão Política da Universidade Federal de Pernambuco(UFPE), Roberta Medeiros Ferreira, falou sobre a atuação do Estado na Promoção de Politicas Públicas de Juventude.

O foco do debate foram as mudanças no setor público brasileiro, passando por programas políticos aplicados na região Nordeste até os projetos sociais realizados em beneficio da juventude. A professora Márcia Pereira agradeceu a oportunidade de exibir seu trabalho de pesquisa no Ciso, já que a cidade de Mossoró tem grandes projetos para a área social. “Fiquei feliz em ter meu espaço neste encontro, o assunto sempre está em pauta, não vai ficar velho tão rápido. E a cidade de Mossoró dá muita atenção ao lado assistencial. Tive o prazer de abordar todo o trabalho desempenhado lá, com certeza é o pontapé para a solução de outros problemas de ordem política”.

Minicurso do 14º Ciso aborda os Nordestes de Nabuco, Freyre e Furtado

Por Diego Ximenes

As bibliografias e a apresentação de três grandes trabalhos a favor do desenvolvimento do Nordeste. Essa foi à temática abordada no minicurso “Os Nordestes de Nabuco, Freyre e Furtado”, evento que faz parte do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso).

No encontro, o professor de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB ), José Henrique Artigas, procurou enfatizar a história dos três grandes ícones nordestinos, Joaquim Nabuco, Gilberto Freire e Celso Furtado, e caracterizar a forma política como a região era caracterizada. “Eles possuíam uma visão completa do que o nordeste representou para o Brasil e tinham pensamentos bem interessantes,sobre o que pode ser feito em relação a sociedade, são alguns destas ideias que pretendo trabalhar neste minicurso”

O evento, que continua nesta sexta-feira(11) pretende rever as diferenças sociais na região e o abismo que divide as classes sociais. O minicurso está agradando aos alunos inscritos. Muitos são de outros estados, como Rigel Marinho Pimenta, que é estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba. “ A aula vem com uma ótima abordagem, todo o assunto está sendo muito bem trabalhado, estou saindo daqui com uma boa experiência na bagagem.”

Mostra fotográfica do 14º Ciso destaca cultura popular, vida urbana e antropologia

Por Tiago Cisneiros

Além de fóruns, grupos de trabalho e minicursos, o 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso) promove uma exposição de ensaios fotográficos no primeiro andar do Centro de Graduação de Ensino (Cegoe) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). As imagens, registradas em Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Rondônia e Rio de Janeiro, inspiram-se em perspectivas sociológicas e antropológicas para retratar o cotidiano e a cultura popular.

As festividades do São João em Sergipe são o assunto de dois ensaios da mostra. “Dos bastidores ao espetáculo: performances culturais das quadrilhas juninas de Aracaju”, de Priscila Santos Silva (Universidade Federal de Sergipe – UFS), apresenta as quadrilhas como um “espaço para a criação de uma grande rede de comunicação e sociabilidade”. Já o trabalho “Gente que brilha: performances culturais das quadrilhas juninas de Sergipe”, de Eufrázia Cristina Santos, Priscila Santos Silva e Vanessa Barreto Garcez (todas da UFS), evidencia os “aspectos simbólicos, expressivos, comunicativos e estéticos da manifestação ritual”, com base nos estudos da performance e na perspectiva antropológica.

Também da Universidade Federal de Sergipe vem o ensaio “Apresentação de um circuito: as manifestações do choro na cidade de Aracaju”, de Daniela Moura Bezerra. O trabalho traz imagens das rodas de choro na cidade e na periferia da capital sergipana.

“Oferenda”, de Diego Madih Dias e Thiago Carminati, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, expõe cenas de manifestações da umbanda – notadamente, as oferendas e despachos típicos da religião. O ensaio “Iirsa e a beira do Madeira”, de Karine Narahara e André Luiz Souza (UFRJ), trata dos impactos socioeconômicos e ambientais dos projetos da Iniciativa pela Integração da Infraestrutura Regional Sulamericana sobre a região do rio Madeira, no Norte do país. As fotos exemplificam os “processos de desorganização e reorganização dos territórios, a partir da implementação das hidrelétricas e da hidrovia do Madeira”.

O projeto “Nos salões”, de Elane Abreu (Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará), retrata a realidade física e humana das barbearias nordestinas. “Calçadas”, de Pedro de Souza Lima Neto (Universidade Católica de Pernambuco), abordam o espaço como a representação política da “esquerda” no urbanismo, o “refúgio dos pedestres” e uma área reservada “fora do ambiente hostil de opressores automóveis, dotados de pressão inata” e do autoritarismo da buzina. As crianças do Sítio Guarany, no município de Olho D’água das Flores, são os personagens do ensaio “Olhar-dela”, de Kelly Baeta (Universidade Federal de Alagoas). A produção apresenta os rostos infantis como a herança do quilombo que existiu na região.

Cinema

Nesta quinta-feira, estão sendo exibidos os filmes “Nem te conto”, “Quem rege a vela?” e “Cinema de Quebrada”, produzidos por pesquisadores da Universidade Federal do Pará, da Universidade Federal da Bahia e da Universidade de São Paulo. Amanhã, é a vez do longa-metragem “Terra de memórias: os velhos do Sisal – saberes do cotidiano”, produzido por professores da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As sessões são realizadas na sala de audiovisual do Cegoe, das 16h30 às 18h30.

Pesquisa revela que estudantes cotistas ainda esperam investimentos na educação básica

Por Tiago Cisneiros

O Grupo de Trabalho “Ações afirmativas e processos de construção de identidades no mundo globalizado” do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso) contou com a apresentação da pesquisa “Política de inclusão social da Universidade de Pernambuco: sob o olhar dos alunos cotistas” nesta quinta-feira (10) à tarde. O estudo foi desenvolvido pelas pesquisadoras da UPE Maria Bernadete Leal Campos, Bruno de Oliveira Jardim Pedrosa e Mayara de Alencar.

Com o objetivo de identificar o perfil socioeconômico e o nível de satisfação com a universidade e o curso, os pesquisadores entrevistaram 71 alunos cotistas da graduação em Medicina – 43 do segundo período e 28 do sétimo período. De acordo com o trabalho, apesar de ingressarem com notas mais baixas do que os aprovados no vestibular universal, os universitários cotistas não sofrem discriminação dos colegas. Além disso, não enfrentam dificuldades extraordinárias no desempenho escolar. “A questão de ter maior ou menor facilidade é uma coisa que existe para todos. Não percebemos problemas específicos entre os cotistas para acompanhar os conteúdos ou se relacionar com professores e funcionários”, esclareceu Maria Bernadete.

A facilidade para ingressar na universidade, no entanto, não é suficiente para que os estudantes concluam os cursos escolhidos. Segundo Maria Bernadete e Mayara de Alencar, os cotistas enfrentam muitas dificuldades financeiras nos campos de transporte, refeição e material didático. “Eles não têm dinheiro para pagar o ônibus, o lanche, os livros e as cópias. É comum ver os alunos em frente à biblioteca, esperando o horário de abertura, apenas para pegar as obras emprestadas, sem custo.”

Embora aprovem a reserva de 20% das vagas do vestibular, os alunos acreditam que o sistema de cotas é uma medida paliativa. “Eles dizem que o mais importante é o investimento na educação básica, para permitir, em alguns anos, o acesso de todos à educação superior”, explicou Maria Bernadete.

As estatísticas da pesquisa apontam que, no segundo período, 30,2% dos estudantes recebem um salário mínimo por mês, e 48,8%, entre dois e quatro salários mínimos. No sétimo período, a média de dois a quatro salários compreende 78,8% dos alunos. Outros 14,3% chegam a receber entre cinco e sete salários. Para as pesquisadoras, o crescimento financeiro pode ser atribuído ao fato de que os universitários veteranos precisam buscar empregos para participar da renda familiar.

O primeiro projeto profissional dos estudantes, também, varia conforme o andamento do curso. No segundo período, as principais intenções dos alunos são realizar outra graduação e dar continuidade aos estudos; no sétimo, destaca-se o interesse em participar de concursos. Ambos, entretanto, revelam um índice semelhante quando a ideia é “ingressar imediatamente no mercado de trabalho” – cerca de 25% dos entrevistados.

Pesquisa aborda os resultados do financiamento público nas eleições

Por Tiago Cisneiros

Em meio às discussões sobre a reforma política no Brasil, o 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso) apresentou, nesta quinta-feira (9), uma pesquisa sobre o financiamento público de campanhas eleitorais e a situação da democracia no país. O trabalho integrou a programação da sessão “Democracia e participação no Brasil contemporâneo”, do Grupo de Trabalho 12, intitulado “Democracia e teoria democrática na América Latina contemporânea”.

O estudo “Democracia e o financiamento público de campanhas eleitorais”, desenvolvido pelo professor Homero de Oliveira Costa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, reúne observações e análises sobre os processos de eleição realizados entre os anos 2000 e 2008. “O financiamento e a interferência do poder econômico têm sido temas muito importantes, desde o impeachment de Collor até a recente Operação Castelo de Areia, passando pelos ‘anões do orçamento’ e o ‘mensalão’”, afirmou.

De acordo com Homero, a Operação Castelo de Areia revelou o envolvimento da empreiteira Camargo Corrêa no sistema de financiamento de campanhas eleitorais. O montante enviado a candidatos e partidos de todo o Brasil está compreendido entre R$ 200 mil e R$ 2 milhões. Em 2008, a empresa foi a segunda maior instituição doadora no país (R$ 5,8 milhões). Para o pesquisador, esse tipo de vínculo tem se mostrado prejudicial à democracia nacional. “A empresa que gera muita verba para os políticos passam a controlar o seu desempenho. A Camargo Corrêa, por exemplo, faturou R$ 6,2 bilhões em 2002, e eu desconfio que esse número seja ainda maior durante o governo Lula.”

A pesquisa apontou, ainda, que a fonte de financiamento varia conforme o grau político dos candidatos. As campanhas dos vereadores fundamentam-se nas doações de pessoas físicas; as dos deputados e governadores, de empreiteiras; e as dos senadores, de bancos.

As campanhas eleitorais brasileiras, segundo o professor, caracterizam-se pelo alto custo, com o financiamento oriundo de um pequeno grupo de empresas. “A eleição de Lula baseou-se na ação de 1319 doadores. Já a de Barack Obama, nos Estados Unidos, seguiu a legislação do país, que não limita o valor das doações. Lá, a verba foi enviada por três milhões e meio de pessoas e instituições.”, comparou.

“Se, nas eleições – símbolo da democracia -, um partido ou candidato recebe muito mais do que outro, surge, aí, uma condição de extrema desigualdade”, declarou Homero Costa, que aponta a questão do financiamento privado como um elemento prejudicial para os próprios políticos. “A corrupção é um fator muito importante na visão da sociedade sobre os partidos, e essa análise, também, está vinculada ao tema dos financiamentos de campanha.”

Desigualdade social: persistência e transformação nas políticas sociais e na ação coletiva é tema de mesa redonda no 14º Ciso

Por Victor Bastos

“Desigualdade social: persistência e transformação nas políticas sociais e na ação coletiva” foi o tema da primeira mesa-redonda desta quinta-feira (10). O debate ocorreu no auditório do Centro de Ensino de Graduação (Cegoe) e foi comandado pelo coordenador geral do Ciso e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o professor Joanildo Albuquerque Burity. Também houve a participação do professor da Ceil-Piette, Júlio César Netta; e do professor Antonio David Cattani, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O argentino Júlio César Netta traçou um paralelo entre as políticas públicas do Brasil e da Argentina. Em seguida, o representante da Ceil-Piette, enfatizou os contextos econômicos, que segundo ele, são fundamentais para debater e entender a desigualdade social. “Temos que ter uma visão geral, pois a perspectiva é de médio e longo prazo para a evolução na trajetória de um país. Isso é um processo histórico”, explicou.

O professor da UFRS, Antonio David Cattani, enfatizou a importância de encontros como o Ciso. “Nos últimos dois anos houve um aumento de debates como esse. É muito bom, pois isso é uma temática com trabalhos sérios”, afirmou. O professor ainda debateu as brechas sociais na população brasileira e a concentração de renda.

Para Antonio Cattani, apesar dos resultados já alcançados neste aspecto pelo Brasil, as mudanças devem acontecer de forma mais rápida para não fragilizar os avanços já conquistados. “Segundo estudos, se tudo der certo, em 2050 estaremos com mais justiça social e menor diferença de classes. Mas eu quero estar vivo para ver isso”, brincou o professor.Em seguida, foi aberto espaço para dúvidas e perguntas.

Na Sala de Seminários do Centro de Ensino de Graduação, ocorreu paralelamente, a mesa redonda “Laboratórios de ensino de Sociologia: reflexões sobre práticas de articulação da licenciatura ao ensino médio”. Coordenaram o debate às professoras Ana Laudelina Ferreira Gomes (UFRN), Nise Jikings (UFSC), Ileizi Fiorelli Silva (UEL) e o professor Amaury Cesar Moraes (USP).

Feira - O pesquisador da Fundaj, Joanildo Albuquerque Burity, informou aos presentes na mesa redonda que durante toda esta quinta-feira (10), no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, estará acontecendo a Feira da Tradição Popular. A partir das 19h, grupos de maracatu e ciranda irão se apresentar em frente ao Cegoe, com participação de Lia de Itamaracá.

Culturas sofrem influência da globalização, do mercado e da mídia

Por André Amorim

O auditório da reitoria da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) recebeu, na segunda manhã do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (14º Ciso), a mesa redonda “Multiculturalismo, diferença e desigualdades: abordagens contemporâneas”. O evento foi realizado às 9h e contou com a presença de um bom número de espectadores.

Coordenado pelo professor da UFRPE, João Morais de Souza, a mesa contou, ainda, com a colaboração do professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Osmundo dos Santos de Araújo Pinho, e da pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Rosângela Tenório.

Com graduação e doutorado em Ciências Sociais e mestrado em Filosofia, Rosângela Tenório conduziu a temática a partir de três eixos: globalização e diferença, diferença cultural e mercado e a relação entre o mercado e a mídia. “Essas três temáticas são de extrema importância para quem deseja entender as diferenças culturais”, disse. Além disso, Rosângela mostrou as influências da globalização nos discursos de diferença culturais.

Osmundo dos Santos, também com graduação e doutorado em Ciências Sociais, possui mestrado em Antropologia Social e estuda, principalmente, as questões ligadas a gênero, sexualidade e relações sociais. O professor da UFRB balizou sua apresentação a partir do que foi apresentado pela professora Rosângela e a partir de fatos vivenciados por ele.

Ecologia e meio ambiente também é preocupação do 14º Ciso

Também na manhã desta quinta-feira (10), foi realizado no auditório de Engenharia de Pesca da UFRPE a mesa redonda “Ecologia política, sustentabilidade e desenvolvimento”. A coordenação da mesa ficou a cargo do pesquisador da área de meio ambiente da Fundaj, Clóvis Cavalcanti.

Também estiveram presentes como colaboradores o representante do Centro Latino Americano de Ecologia Social (CLAES), Eduardo Gudynas, o representante do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional do Rio de Janeiro (IPPUR-RJ), Henri Acselrad, e da professora da Universidade Federal de Alagoas, Marcionila Fernandes.

Fórum discute cultura popular e patrimônio histórico

Por André Amorim

A sala de seminários do Centro de Ensino de Graduação (Cegoe) recebeu, na manhã desta quinta-feira (10), o fórum “Cultura popular e patrimônio: questões contemporâneas”.
A coordenação da mesa ficou a cargo do professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), José Maria da Silva, e contou com a colaboração da técnica do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Maria Dorotéa de Lima, da pesquisadora do Iphan, Luciana Gonçalves de Carvalho, e do professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Sérgio Ivan Gil Braga.

O professor da UFAM, Sérgio Braga, trouxe uma abordagem mais próxima da cultura popular, mostrando as práticas e os códigos próprios do povo. Sérgio mostrou, ainda, a ideia de segredo e jogo que está contida nas expressões populares como no caso da festa dos bois de Parintins. “Em Parintins, mais do que se apresentando, os participantes estão competindo”, disse.

Em seguida, Maria Dorotéa falou sobre o decreto 3551, que instituiu o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem o patrimônio cultural brasileiro e sua experiência no registro de trabalhos dessa natureza. Além disso, Maria Dorotéa falou sobre as dificuldades que o Iphan enfrenta ainda hoje com a falta de profissionais em áreas como antropologia. Por último, a pesquisadora Luciana Gonçalves falou sobre as pesquisas realizadas para inventários de cultura e sobre a aproximação do Iphan, antes mesmo da existência do decreto, com a cultura popular.

Fórum discute estratégias de produção de conhecimento

Coordenado pelo representante do Instituto Papai, Jorge Lyra, e com a colaboração da professora da UFPE, Joselma Cordeiro, da professora da Faculdade Damas, Maria Longhi, e da professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Mônica Franch, foi realizado, no auditório de Engenharia de Pesca, o fórum “De solitário a solidário: estratégias coletivas de produção de conhecimento”.

Discussão sobre estratégias públicas de enfrentamento à pobreza abre segundo dia de fóruns no 14º Ciso

Por Victor Bastos

O fórum “Estratégias públicas de enfrentamento da pobreza” abriu o segundo dia de fóruns do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste. O debate ocorreu no Auditório do Centro de Ensino de Graduação (CEGOE), das 11h às 12h30. Coordenaram o evento as professoras Taís de Freitas Santos (UNFPA), Anete Leal Britto Ivo (UFBA), a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Helenilda Cavalcanti, e o representante do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Edélcio Vigna.

A pesquisadora da Fundaj, Helenilda Cavalcanti, discutiu o diálogo entre a sociedade civil e o Estado. Em seguida, a pesquisadora falou sobre a pobreza com o olhar voltado em estudos e pesquisas. “A desigualdade social é grande, e com uma influência negativa gerada pela pobreza das grandes cidades”, explicou.

Um dos tópicos levantados durante o fórum foram os programas de renda e, principalmente, o programa do Governo Federal Bolsa Família, ilustrando seus avanços e paradoxos. Segundo a professora Anete Ivo, são necessárias diversas medidas e políticas públicas para diminuir a desigualdade social, mas três são essenciais. “Para garantir uma reprodução do capital, é necessário proteção e solidariedade social, e um trabalho com redistribuição fiscal”, afirmou.

No Auditório da Reitoria, ocorreu paralelamente, nesta quinta-feira (10), o fórum “Ações afirmativas no ensino superior pós-Conferência de Durban”. Ministraram o debate o pesquisador da Fundaj, Carlos Augusto Sant’Anna Guimarães, o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Moisés de Melo Santana, o professor da Universidade Federal de Sergipe, Paulo Sérgio da Costa Neves, e o representante do Instituto Cultural Steve Biko, Sílvio Humberto dos Passos Cunha.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mostra de cinema movimenta o 14º Ciso

Por Diego Ximenes

Nem só de painéis, minicursos e apresentações de trabalhos vive a programação do 14º Ciso. Quem passou pelo Centro de Graduação de Ensino da Universidade Federal de Pernambuco hoje à tarde (9) pôde assistir a uma mostra de cinema. A película A Agente abriu a sessão. O filme conta a história de como é a vida no trabalho de algumas agentes penitenciárias.

Nesta quinta-feira (10), a mostra exibe “Nem te conto”; “Quem rege a vela?” e “Cinema de Quebrada”. No último dia do Ciso (sexta-feira, 11), vai ser apresentado o filme "Terra de Memórias: os velhos da Sisal - saberes do cotidiano”. Os filmes começam sempre às 16h30 e seguem até às 18h30.

A estudante do 8º período curso de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Tarsila Barbosa, ficou surpresa com as boas produções e promete não perder as próximas sessões. “Estou admirada com o nível das obras. São filmes de primeira qualidade, está sendo muito proveitoso.”

Relação entre cultura e mídia é discutida em minicurso

Por Tiago Cisneiros

O final da tarde desta quarta-feira (9) foi marcado pelo início de oito minicursos promovidos pelo 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso). Pesquisadores de instituições de Pernambuco, Paraíba e Minas Gerais ministrarão aulas sobre diversos campos das Ciências Humanas e Sociais até esta sexta-feira (11). O minicurso “Cultura e Mídia” analisa a relação entre os produtos do jornalismo, da publicidade e do entretenimento. As aulas são organizadas pela pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, Rúbia Lóssio.

De acordo com a pesquisadora, o termo “folclore” está sendo substituído pela expressão “cultura popular”. A postura se deve a uma noção disseminada de que as práticas folclóricas são estáticas, isto é, presas a um passado remoto e carentes de renovação ou progresso. Formada pelos elementos do inglês arcaico “folk” (povo) e “lore” (saber), a palavra designa, segundo Rúbia, a dinâmica de história e comportamento da sociedade, com destaque para a adaptação de interferências econômicas e culturais em sua vivência.

Na introdução ao minicurso, Rúbia Lóssio enfatizou o significado do termo “cultura” estabelecido pelo sociólogo Jonathan Turner. “Ele oferece uma visão simplificada e didática da palavra, apontando-a como um conjunto de símbolos empregados pelo povo em sua sobrevivência, organização e regulação de pensamentos”, explicou. Segundo ela, o paradigma de cultura como bem comum perdeu espaço para a onda da “economia da cultura” e as suas discussões sobre como atrelar valores às manifestações e tradições.

Atualmente, o folclore e a cultura popular são estudados sob a ótica da ‘folkcomunicação’, desenvolvida na dissertação de mestrado do professor Luiz Beltrão, que integrou o corpo docente dos cursos de Comunicação Social da Universidade Católica de Pernambuco. “Essa linha de pesquisa trabalha com o uso das mensagens da mídia pelo povo no seu dia a dia. Trata-se da apropriação desse conteúdo em suas manifestações (artesanato, dança e linguagem)”. Como exemplo da penetração midiática no comportamento da sociedade, ela destacou o emprego de um banner no lugar de um estandarte de carnaval, a confecção de um boneco artesanal inspirado no personagem de novela Foguinho (interpretado por Lázaro Ramos) e a preferência por nomes em idiomas estrangeiros, notadamente o inglês, para (re) batizar produtos tradicionais da região. O minicurso “Cultura e Mídia” prossegue até a sexta-feira, das 16h30 às 18h, na sala 3 do Centro de Ensino de Graduação da UFRPE.

O desenvolvimento das sociedades das capitais nordestinas é tema de debate no 14º Ciso

Por Diego Ximenes

A formação e o desenvolvimento das sociedades das principais capitais nordestinas foram temas de discussão do grupo de trabalho 8 do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso). Intitulado “A Cidade e o Urbano”, o GT foi apresentado na tarde desta quarta-feira (9), no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Os estudantes do curso de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco Lindembergue Santos e Rebeca Souza, ambos do 4º período, abordaram a história da sociedade pernambucana e sua evolução, a partir da herança holandesa. “O aprendizado está valendo para todas as gerações, alunos e professores estão interagindo sobre um único assunto, esse é meu primeiro encontro e estou muito satisfeito”.

Já a doutoranda do programa de doutorado de Ambiente e Sociedade da Universidade de Campinas (SP), Zoraide Souza, apresentou as características geopolíticas da região metropolitana de Natal (RN). Pernambuco foi representado pela mestranda em Comunicação pela UFPE, Andréia Moreira, que abordou as ‘formas urbanas e a violência simbólica’.

“A troca de informações ao entrar em contato com outras pesquisas está sendo ótima. Neste Ciso, temos a oportunidade interagir com diversos estudos e pessoas de várias cidades. É uma experiência muito boa”, avaliou o professor de Antropologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Marco Aurélio Tabosa. Esta temática continuará em discussão na tarde desta quinta-feira(10).

Novos padrões do campo de trabalho são tema de sessão no 14º Ciso

Por Tiago Cisneiros

O Grupo de Trabalho 3 – “Trabalho, sindicato e políticas públicas na sociedade contemporânea” - do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso) discutiu, na tarde desta quarta-feira (9), as novas configurações do trabalho caracterizadas pelos processos de flexibilização, precarização e informalização. Entre os assuntos abordados na sessão “Indicações de novos padrões de relações de trabalho”, estiveram a comparação entre as reformas nas relações trabalhistas de Brasil e México, as condições da indústria do vestuário em Toritama, no Agreste pernambucano, e a situação dos funcionários das empresas automobilísticas do Paraná.

Diante das mudanças no mundo do emprego ocorridas desde a década de 1980, têm sido ampliados os debates sobre a necessidade de reforma da legislação de relações trabalhistas no Brasil e no México. A discussão gira em torno de duas visões opostas: os defensores da desregulamentação, baseados na ideia de que a excessiva rigidez das normas impede o livre funcionamento dos mercados de trabalho, e os partidários de uma profunda reforma sindical, com o fortalecimento dos funcionários nas negociações sindicais. A pesquisa apresentada no 14º Ciso foi realizada pelo professor Wagner de Souza Leite Molina, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

O estudo “Condições de trabalho na indústria do vestuário: um estudo sobre Toritama”, realizado pelos pesquisadores Luís Campos, Darcilene Gomes, Valtemira Vasconcelos e Kallyne Moura, contempla as características das condições e relações de trabalho no município de Toritama, no Agreste de Pernambuco. A localidade é marcada por indicadores de desocupação muito baixos e, simultaneamente, por um altíssimo grau de informalidade e severos problemas ambientais.

A Fundaj promoveu, em 2008, uma pesquisa de campo para observar as condições de trabalho da população residente em Toritama ou das pessoas que se deslocam para aquela cidade. O coordenador do GT, professor Roberto Véras de Oliveira, da Universidade Federal de Campina Grande, que tem um projeto sobre o município, comentou: “Toritama tem um índice muito elevado de precariedade e informalidade. Diante do contexto mais geral e a tendência de flexibilização, é interessante analisar como esse processo implica em um cenário de tanta flexibilidade”.

A pesquisa “Trabalhadores, identidade social e ação coletiva na indústria automobilista do Paraná”, da professora da Universidade Federal do Paraná Maria Aparecida da Cruz Bridi, aborda a influência das transformações no âmbito do trabalho na construção da identidade da classe trabalhadora. O espaço de produção flexível e enxuta contribui para que os trabalhadores partilhem interesses que favoreçam a ação coletiva. No Paraná, os funcionários das empresas automobilísticas têm sido obrigados a enfrentar uma jornada de trabalho com muito mais de 40 horas semanais, devido ao comportamento das empresas em busca de maior produção.

No último momento da sessão, o coordenador do Grupo de Trabalho 3, professor Roberto Véras de Oliveira, promoveu um debate com os participantes e ouvintes sobre as temáticas abordadas.

Fóruns temáticos se destacam na programação do 14º Ciso

Por André Amorim

Além das mesas redondas, a 14ª edição do Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso) também está promovendo fóruns temáticos. Nesta segunda-feira (9), foi realizado, no auditório do Centro de Ensino de Graduação (Cegoe) da Universidade Federal Rural de Pernambuco, o fórum “Desigualdade regional, regulação pública e economia de mercado”.

A coordenação ficou a cargo da representante da Superintendência Nacional de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Fernanda Ferrário, e teve a colaboração da professora da Universidade Federal de Pernambuco, Ana Cristina Fernandes, e do secretário do Ministério de Integração Nacional, Henrique Villa Costa.

A professora Ana Cristina realizou uma apresentação teórica da questão da desigualdade no sistema capitalista como um todo e, ao final, mostrou como a desigualdade se manifesta no cenário brasileiro. Já secretário do Ministério de Integração Nacional, Henrique Villa Costa, mostrou a política nacional de desenvolvimento regional, a importância desse instrumento e o papel do Estado na implementação desta política.

O auditório da reitoria da UFRPE também recebeu na manhã desta segunda-feira (9) o fórum “A política habitacional em disputa”. O encontro foi coordenado pelo representante da Fundação Visconde de Cairu, Raphael Cloux, e contou com a colaboração do professor da Universidade Federal do Piauí, Francisco Mesquita de Oliveira; da representante da União Nacional de Moradia Popular, Marli Aparecida Verzegnassi; e da enviada do Centro Dom Helder Câmara, Mércia Maria Alves da Silva.

Primeira mesa redonda do Ciso aborda os 60 anos da Fundaj

Por André Amorim

Os 60 anos da Fundação Joaquim Nabuco foi o tema do primeiro debate do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso). Intitulada de “A Fundação Joaquim Nabuco e o campo das ciências sociais no Brasil: linhagens, trajetórias e perspectivas”, a mesa redonda contou com a coordenação da pesquisadora da Fundaj Rita de Cássia Barbosa de Araújo, e com a colaboração da também pesquisadora da Fundaj Alexandrina Sobreira; do professor do departamento de Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco Antônio Carlos Mota; e do professor da UFPE e primeiro estagiário da Fundaj Heraldo Souto Maior.

Alexandrina, primeira a falar, lembrou que completou 28 anos de trabalhos dedicados à Fundação nesta semana e falou sobre a importância das atividades realizadas pela Fundaj desde que foi criada por Gilberto Freyre. Além disso, Alexandrina destacou o pioneirismo, a interdisciplinaridade nos estudos realizados e as parcerias com a Superintendência Nacional de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e outros países. “Fomos os pioneiros na área de Ciências Políticas, quando criamos, em 1981, um departamento exclusivo para o assunto, o primeiro das regiões Norte e Nordeste”, disse.

A pesquisadora falou ainda da recente contratação de 30 novos pesquisadores, através de concurso público, e de que forma isso contribui com as novas pesquisas. “Essas contratações mostram o potencial que a Fundação tem para continuar a crescer e é bastante positiva porque junto com os novos pesquisadores chegam novos temas que fazem parte da atual agenda como a questão do meio ambiente e as questões de gênero”, explicou.

O pioneirismo da Fundaj também norteou as colocações do professor do departamento de Antropologia da UFPE Antônio Carlos Mota. Ele destacou as contribuições no campo das pesquisas do extinto departamento de Antropologia da Fundaj, que foi criado antes mesmo dos cursos de Antropologia nas universidades. Segundo ele, os seus principais eixos de pesquisa se constituiram do estudo das religiões afro-brasileiras e da cultura indígena.

O primeiro pesquisador bolsista do então Instituto Joaquim Nabuco, Heraldo Souto Maior, falou sobre as previsões pessimistas e comentários que surgiram na época da criação da Fundaj e destacou a importância de ter sido estagiário da Fundação. Além disso, falou também sobre as dificuldades que enfrentou no início do trabalho.

O Ciso é realizado há 20 anos e se consolidou como espaço de troca e intercâmbio interinstitucionais. O evento é realizado pela Fundaj em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Católica de Pernambuco e Faculdade Marista do Recife.

Esquerda latino-americana é tema de mesa redonda do 14º Ciso

“Pensamento de esquerda na América Latina: atualidade e perspectivas”. Esse foi o tema abordado pela 2ª mesa redonda do 14º Ciso, na manhã desta segunda-feira (9), no auditório do Centro de Ensino de Graduação (Cegoe) da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O trabalho da mesa foi coordenado pelo professor da Rural, Délio Mendes, e contou com a colaboração do professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Josiais de Paula Jr., e do professor da Universidade Federal de Pernambuco, Michael Zaidan Filho. Entre os temas abordados pelos debatedores estiveram as tipologias de esquerda na América Latina, mais especificamente no Brasil, e os programas de esquerda na América Latina e a importância simbólica do processo iniciado por Hugo Chaves na Venezuela, a chamada Revolução Bolivariana.

“Trabalho doméstico, reprodução das desigualdades e globalização” é tema de Fórum no 14º CISO

Por Victor Bastos

O tema “Trabalho doméstico, reprodução das desigualdades e globalização” foi debatido na manhã desta quarta-feira (09), na Sala de Seminários do Centro de Ensino de Graduação (CEGOE) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), das 11h às 12h30. O fórum foi coordenado pela professora da UFRPE Laura Susana Duque-Arrazola, pela professora da Universidade Federal Fluminense Hildete Pereira de Melo e pela representante do SOS Corpo, Maria Betânia de Melo Ávila.

Para a professora Laura Susana, é necessário que se situe em um contexto histórico para entender o trabalho e o emprego doméstico. “Tudo isso vem da colonização. Vivemos, hoje, em uma sociedade capitalista e patriarcal, onde existe uma distinção de classes e é racista”, explicou. Segundo ela, por isso o trabalho doméstico virou um campo de pesquisa.

Segundo Betânia Ávila, existe uma relação entre trabalho e emprego doméstico e que isso se reflete no salário. “Por uma questão cultural, o salário das empregadas domésticas é o pior salário pago às mulheres brasileiras”, explicou a professora Hildete de Melo.

Hildete de Melo abordou a relação entre produção e reprodução do trabalho doméstico. Para a professora da UFF, existe uma recriminação em vários campos da sociedade com esse serviço. “A legislação não abrange o trabalho doméstico e em pesquisas não é contado como dado para o Produto Interno Bruto, pois é tratado como a relação da esposa com o marido, por não ser remunerado. Até as prostitutas entram no PIB, pois é um trabalho pago”, disse.

A representante do SOS Corpo abordou o tema da globalização como uma reestruturação produtiva e citou as migrações de países e classes. Segundo ela, há casos de mulheres que saíram de seu país de origem para trabalhar como empregadas domésticas, como ocorreu com mulheres das Filipinas que foram morar na França. No Brasil, há um deslocamento do interior para os grandes centros para se garantir o emprego. De acordo com Maria Betânia, esta situação faz com que as relações com a família no interior se restrinjam a visitas esporádicas.

Fazer com que o trabalho doméstico deixe de ser apenas “uma doação, uma entrega” foi o principal ponto debatido. Segundo as coordenadoras do fórum, isso tem que ser uma conquista feminina, como resultado de uma resistência. “Temos que considerar como um trabalho de verdade, mas isso não acontece, pois vivemos em uma sociedade marcada pela troca de mercadorias”, afirmou a professora Laura Susana.

Na manhã desta quarta-feira ocorreu paralelamente, no auditório de Engenharia de Pesca, o fórum “A situação dos defensores de direitos humanos no Brasil no contexto da luta contra a violência”. O tema foi discutido pelos professores da Universidade Católica de Pernambuco, Jaime Benvenuto, da PUC do Rio de Janeiro, Daniel Aragão, e pelos representantes da CONARE, Renato Zerbini Ribeiro Leão, e do Movimento Nacional de Direitos Humanos de Pernambuco, Manoel Moraes.

Mulher, corpo, igrejas, Estado: Quem manda?

Por Victor Bastos

A 14ª edição do Ciso promoveu na manhã desta quarta-feira (09), na Sala de Seminários do CEGOE, das 9h às 10h30, a mesa redonda Mulher, corpo, igrejas, estado: Quem manda? A mesa foi comandada pelo coordenador do encontro, o pesquisador da Fundaj Joanildo Burity, a professora da Umesp Sandra Duarte de Souza, a professora da Unicap Janice Albuquerque, a representante do SOS Corpo Verônica Ferreira e a representante da Secretaria da Mulher, Amanda Scott.

A professora da Umesp, Sandra Duarte, enfatizou a dissonância entre os discursos oficiais religiosos e as práticas das pessoas religiosas. “Existe uma autonomia relativa do sujeito religioso, apesar das intervenções religiosas”, disse. Sandra ressaltou a legitimidade do Estado. Segundo ela, as decisões estatais passam pelo crivo da religião. “No Rio de Janeiro há o Sindicato dos Advogados Católicos, assim como já vi um de espíritas, onde estudam o caso de acordo com a religião. Com isso, podemos perceber que existe essa interferência”, explicou.

A representante da Secretaria da Mulher, Amanda Scott, levantou questões estatísticas na sua apresentação. De acordo com ela, a participação do Estado vem se tornando cada vez mais importante na mudança da mulher na sociedade. “Historicamente o homem é quem manda e a educação religiosa reprime, pois a mulher não tem direito ao corpo. A igreja manda na mulher e no corpo. O estado laico é que vem mudando isso, principalmente após os movimentos feministas”, afirmou.

Democracia: novos e velhos desafios em debate na manhã do 14º Ciso

Por Victor Bastos

A mesa redonda Democracia: velhos e novos desafios ocorreu na manhã desta quarta-feira (09), das 9h às 10h30, no auditório de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). O trabalho da mesa foi realizado pelos professores Luis Felipe Miguel (UnB), Assis Brandão (UFPE), Gabriel Eduardo Vitullo (UFRN) e Flávia Birolli (UnB).

O professor da Universidade Federal de Pernambuco, Assis Brandão, falou sobre os vários tipos de procedimentos democráticos. Teorias de filósofos políticos como Norberto Bobbio e John Stuart Mill foram discutidas. “A teoria de Bobbio e Mill é uma teoria desenvolvimentista, é uma concepção ética da democracia”, afirmou.

Assis Brandão fez comparações entre a democracia desenvolvimentista e procedimentalista. Segundo ele, o procedimentalismo é uma concepção elitista. “Nessa teoria, o meio é desprovido de fins”, citou. O professor finalizou sua participação na mesa redonda com uma frase que decorre da influência dos procedimentos democráticos. “Nós queríamos mudar o mundo, mas o mundo que nos mudou”, explicou o professor.

Conferência sobre desigualdade e injustiça social abre 14º Ciso na Fundaj

Por Rebeca Kramer e Tércio Amaral

“O mapa desse Brasil, em vez das cores dos Estados, terá as cores das produções e dos trabalhos”. Lembrando da frase de Gilberto Freyre, do poema ‘Um outro Brasil vem aí’, o presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Fernando Lyra, abriu na noite desta terça-feira (8) a cerimônia do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso). A abertura do evento aconteceu no auditório Benício Dias, na sede Fundaj, em Casa Forte, e contou com a conferência de abertura que abordou o tema do encontro, “Desigualdade e justiça social: regiões, classes e identidades no mundo globalizado”. O palestrante foi o economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A conferência foi antecedida pela mesa-redonda da abertura oficial do evento. Os integrantes foram o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Fernando Lyra; o reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Walmar Correia de Andrade; o diretor em exercício da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj, Wilson Fusco; a coordenadora do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Pernambuco, Maria Vitória Machado; o coordenador-geral do evento, Joanildo Burity, e o representante da Faculdade Marista, professor Rômulo Pinto. De acordo com Burity, o evento, que acontece a cada dois anos desde 1990, parece não abordar um tema novo, que é a desigualdade. Mas, quanto mais for discutido e quanto maior a persistência no debate, maior possibilidade haverá de um maior ritmo de enfrentamento. “Desigualdade não pode ser ligada somente a chaves econômicas. Existem injustiças culturais, ambientais, de gênero, desigualdades de raça e conflitos étnico-religiosos, ora potencializados pela sociedade, ora minimizados pelas políticas de lei”, comentou.

Segundo a professora Vitória, a importância do evento consiste no fato da discussão não do que é a desigualdade, mas quais facetas ela pode assumir na sociedade. “Queremos justiça social, pois a desigualdade, surgida pela relação capital e trabalho, combate-se com direitos”, afirmou. Na conferência, o presidente do Ipea Marcio Pochmann destrinchou em três fases os momentos de desigualdades pelas quais as sociedades do século 19 e 20 já passaram, até as condições atuais da civilização. Pochmann defendeu dois elementos importantes no processo de investigação das desigualdades: o reconhecimento da questão como um padrão de manifestação e o estudo da temática ao longo de três séculos de desigualdades em termos diferenciados. “Somente quando de fato reconhecidas é que se estabelecem medidas de enfrentamento”, expôs. “Vivemos vários padrões de desigualdade e entendemos que os instrumentos que temos hoje não são suficientes para uma efetiva solução”, complementou.

Segundo o economista, discutir diferenças até o final do século 19 era estar prisioneiro de dois princípios, que conduziam o sentido de desigualdade para um fenômeno da naturalidade. O princípio religioso, cujas diferenças entre os homens eram justificadas sob o ponto de vista divino. E, depois, o princípio científico de que havia uma incapacidade da economia de gerar produtos e bem estar a todos. A ideia, que tem como principal manifestador o estudioso Thomas Maltus, colocava o homem pobre como único e exclusivo culpado pela pobreza por procriarem além do limite. “A desigualdade era responsabilidade dos desiguais. Era, portanto, normal que a morte acontecesse pela fome”, afirmou.

O presidente do Ipea falou, especificamente, de uma sociedade agrária. Com a expectativa de vida não superior a 35 anos e com um estilo de vida bastante rudimentar, a mulher era vista como uma máquina de reprodução humana que teria, durante a vida, de 15 a 20 filhos. “A mulher fora de casa não existia. Desde que o ser humano saiu das árvores e passou a caminhar de forma bípede, a mulher tem a função de reprodutora e o homem, como era mais forte, da caça e da pesca”, disse. Na sociedade agrária, ainda, as pessoas trabalhavam exatamente no local de moradia, com possibilidade de expansão territorial baixa. Por conta disso, durante seus 35 anos de vida, teriam conhecido apenas cerca de 100 pessoas. O conhecimento, em suma, era passado de pai para filho. A sociedade, que era heterônoma, tinha suas crianças já no trabalho aos 5, 6 anos porque não havia escola, trabalhando por jornadas elevadas. Uma pessoa que começasse aos 5 anos e morresse aos 35 teria trabalhado 70% da vida. “O elemento de orientação laboral não é o relógio, mas a iluminação solar. A jornada ia de segunda a segunda. Viver era, fundamentalmente, trabalhar”, ressaltou.

Na sociedade urbano-industrial a expectativa já se aproxima aos 100 anos. O padrão se assenta no trabalho material e no esforço físico do ser humano. “Nesse momento, o homem perde a autonomia no ciclo do seu trabalho”, comentou. Nesse momento, segundo Pochmann, a família do século 20 torna-se diferente. As mulheres terão dois filhos e viverão 60 anos. O trabalho será para além daquele doméstico, tendendo a ser mais valorizadas. As famílias aparecem menores, no entanto, emerge uma crise de sociabilidade, na reprodução de valores. “Agora, o conhecimento deixará de ser transmitido pelos mais velhos, pois ele será padronizado. Haverá uma escala local de transmissão de valores comuns no interior dos espaços nacionais: a língua pátria, o hino”, destacou. De acordo com ele, nesse momento, o trabalho se torna difícil de ser executado desde cedo. As mães já não podem mais levar os filhos para o serviço, havendo, assim, uma distinção entre moradia e local de trabalho. “Os pais passam a chegar mais tarde em casa e a relação social recoloca-se como forma de desigualdade. Abandona-se a ideia das diferenças por justificações divinas e por fatores científicos”, observou. “Não há mais justificativas para a desigualdade”.

Rousseau mudou o discurso da desigualdade para o viés político e de responsabilidade do próprio homem, devido ao direito de apropriação de terra. Mas o homem também tem o poder de mudar sua história, como dizia Hegel. Na ocasião, o economista expôs as possibilidades de alteração dos padrões de desigualdade: pela revolução ou pelas reformas. “As reformas, diferentemente da revolução, visavam gerar condições menos desiguais de oportunidades e não modificar completamente”, salientou. “Os impostos, que oneram os ricos, deveriam ser utilizados para minimizar essas diferenças”. Na sociedade do século 21, a educação é colocada como o elemento básico para a possibilidade de concorrência e, a essa altura, pela primeira vez, torna-se possível a quem não tem posses, mas que cedeu uma parte do rendimento financeiro ao governo por meio do pagamento de tributos, ter direito a uma aposentadoria. O principal elemento de riqueza não é mais o material, passando a ser o imaterial, por meio da sociedade dos bens e serviços. “No Brasil, 70% dos empregos estão no setor terciário”, destacou.

De acordo com Pochmann, o trabalho imaterial pode ser realizado em qualquer lugar, não precisando, como na sociedade agrária, ser executado no local do trabalho. “Na sociedade de subsistência, precisava-se da terra. Na urbano-industrial, era preciso ter a fábrica. Agora, dorme-se com o trabalho, sonha-se com ele. A tecnologia está ligada ao homem de hoje, com as atividades laborais sendo realizadas nos locais para além dos ambientes de serviço”, contou. O economista chamou a atenção para o fato de que a educação, em certo momento, ser procurada somente até a juventude. Hoje, o conhecimento do século 21 segue com a pessoa ao longo da vida, não sendo mais estanque e utilitarista.

“Um engenheiro que passava seis anos na Universidade, saía do curso com o diploma e apto a desenvolver a atividade e depois não pegava mais num livro. Agora, as pessoas buscam cada vez mais se especializar para conquistar o seu espaço. Afinal, não há mais a certeza de emprego garantido”. Nesse momento, as pessoas executarão trabalho e estudo ao mesmo tempo e terão tão pouco tempo quanto as do período agrário tinham. “É humanamente impossível ter bons resultados”, opinou. “O que está em jogo é financiar a igualdade, quando os filhos dos ricos entram para o mercado de trabalho depois de várias especializações enquanto o filhos dos pobres precisam trabalhar imediatamente para se sustentar e ajudar a família”. E essa facilidade acontece porque, segundo Pochmann, a tendência será as pessoas terem somente um filho. “Já foi, inclusive, descoberto o espermatozóide de laboratório. As mulheres não precisarão sequer ter um pai para suas crianças”, afirmou.

“Como financiar o ingresso tardio ao mercado de trabalho?”, questionou, para responder em seguida: “Com a reformulação da tributação e da propriedade. Ele acrescentou que não há tempo livre para o lazer e o diálogo na sociedade contemporânea. As famílias, quando reunidas, ficam em silêncio em frente à televisão. “Conhecendo a realidade tal como se manifesta no Brasil é que poderemos transformá-la e, assim, reverter a constituição numa nova maioria política”, finalizou.