quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pesquisa revela que estudantes cotistas ainda esperam investimentos na educação básica

Por Tiago Cisneiros

O Grupo de Trabalho “Ações afirmativas e processos de construção de identidades no mundo globalizado” do 14º Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso) contou com a apresentação da pesquisa “Política de inclusão social da Universidade de Pernambuco: sob o olhar dos alunos cotistas” nesta quinta-feira (10) à tarde. O estudo foi desenvolvido pelas pesquisadoras da UPE Maria Bernadete Leal Campos, Bruno de Oliveira Jardim Pedrosa e Mayara de Alencar.

Com o objetivo de identificar o perfil socioeconômico e o nível de satisfação com a universidade e o curso, os pesquisadores entrevistaram 71 alunos cotistas da graduação em Medicina – 43 do segundo período e 28 do sétimo período. De acordo com o trabalho, apesar de ingressarem com notas mais baixas do que os aprovados no vestibular universal, os universitários cotistas não sofrem discriminação dos colegas. Além disso, não enfrentam dificuldades extraordinárias no desempenho escolar. “A questão de ter maior ou menor facilidade é uma coisa que existe para todos. Não percebemos problemas específicos entre os cotistas para acompanhar os conteúdos ou se relacionar com professores e funcionários”, esclareceu Maria Bernadete.

A facilidade para ingressar na universidade, no entanto, não é suficiente para que os estudantes concluam os cursos escolhidos. Segundo Maria Bernadete e Mayara de Alencar, os cotistas enfrentam muitas dificuldades financeiras nos campos de transporte, refeição e material didático. “Eles não têm dinheiro para pagar o ônibus, o lanche, os livros e as cópias. É comum ver os alunos em frente à biblioteca, esperando o horário de abertura, apenas para pegar as obras emprestadas, sem custo.”

Embora aprovem a reserva de 20% das vagas do vestibular, os alunos acreditam que o sistema de cotas é uma medida paliativa. “Eles dizem que o mais importante é o investimento na educação básica, para permitir, em alguns anos, o acesso de todos à educação superior”, explicou Maria Bernadete.

As estatísticas da pesquisa apontam que, no segundo período, 30,2% dos estudantes recebem um salário mínimo por mês, e 48,8%, entre dois e quatro salários mínimos. No sétimo período, a média de dois a quatro salários compreende 78,8% dos alunos. Outros 14,3% chegam a receber entre cinco e sete salários. Para as pesquisadoras, o crescimento financeiro pode ser atribuído ao fato de que os universitários veteranos precisam buscar empregos para participar da renda familiar.

O primeiro projeto profissional dos estudantes, também, varia conforme o andamento do curso. No segundo período, as principais intenções dos alunos são realizar outra graduação e dar continuidade aos estudos; no sétimo, destaca-se o interesse em participar de concursos. Ambos, entretanto, revelam um índice semelhante quando a ideia é “ingressar imediatamente no mercado de trabalho” – cerca de 25% dos entrevistados.

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